segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Táticas de partilha e estratégias de infiltração (ou sobre um nomadismo específico) - (Texto 3)

Todas as experiências infiltrantes foram desenvolvidas com vistas a encontrar não um produto, ou uma obra, mas sim o que chamamos o tempo todo de procedimento artístico. Um procedimento que fosse ao mesmo tempo específico e nômade. A proposta sempre foi a de movimentar alterações amplamente conectadas com as peculiaridades de um contexto, mas fazer isso buscando retirar dessa experiência princípios e eixos articuladores passíveis de serem aplicados em outros contextos. Algo que possa ser a “máscara” de um estêncil que seja feito em diferentes lugares. Mas ao invés da tinta, nosso material é a ação.

Emprestamos aqui as expressões estratégia e tática, no pensamento de Michel de Certeau, para tentar explicar duas escolhas co-existentes. “A estratégia se postula como algo que possa ser circunscrito como próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações em uma exterioridade distinta.” Essa pode ser uma tentativa de definir o que chamamos dentro do nosso processo de procedimentos base. O que levamos conosco para qualquer contexto, mas que lá, sofre modificações da tática. “A tática opera golpe por golpe, lance por lance. Ela aproveita as ocasiões e delas depende. O que ela ganha não se conserva.” Esta seria então, a especificidade, o “como”, a maneira em que os procedimentos base se desenvolvem em cada lugar diferente.

Nós começamos em um contexto. Habitamos, infiltramos, observamos, participamos, interferimos, modificamos e fomos modificados por ele. Foi nesta observação prática, que geramos e organizamos nossos primeiros desejos, nossas primeiras linhas de ataque, que depois iriam agir nos diversos locais de maneiras diferentes. As ações de cada lugar seriam ações irmãs, que nascem dos mesmos princípios, mas que se diferem por se relacionarem com ambientes distintos, por terem suas táticas desenvolvidas pelas especificidades de cada local.

A formatação de nossa experiência para a sala de exposição também representa uma transposição dos procedimentos adotados no café. Um exemplo disso é o vídeo que aparece como desdobramento das experiências com o feitiço.
No vídeo desenvolvemos especialmente os conceitos ações quase possíveis e pacto de visibilidade. Assim, o nomadismo do procedimento não está somente no deslocamento físico da experiência, mas também em possíveis deslocamentos midiáticos. O vídeo aponta nossas elaborações sobre como esmiuçar uma realidade, dissecá-la e colocar nela diversas lentes de aumento, produzindo outras alternativas de percepção, propondo uma renegociação da partilha do sensível.

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